Nem sempre o que a gente quer que aconteça, vai acontecer. E essa é uma das verdades que dificilmente entram na minha cabeça.
Dias atrás, finalmente assisti ao filme Vidas Passadas. O filme tem um mix de leveza com ingenuidade, amor com despedida, “tudo é possível” com “nem tudo é possível”. Ao mesmo tempo que a protagonista, Nora (em sua versão ocidental), atravessa o mundo para realizar o sonho de ganhar um prêmio grande como o Pulitzer, seu amor de infância, Hae Sung, fica em sua cidade natal, na Coreia do Sul, seguindo o fluxo da vida de forma mais desacelerada. Os lados opostos, tanto de suas escolhas quanto de suas localidades geográficas, fizeram com que não fosse possível um amor acontecer, e foi isso que me tocou no final do filme. Não se trata de um clichê de “felizes para sempre”, ou de “o amor sempre vence e prevalece”. É um tapa na cara de que escolhas importam.
É claro que existem aquelas escolhas que nos permitem optar por um caminho de retorno. Nem tudo é permanente. Mas existem aquelas que matam algumas possibilidades, e são justamente essas que estão intrínsecas no nosso dia a dia. A escolha que fazemos sem nem perceber que estamos fazendo uma escolha, sabe? E se optarmos por ceder ao medo, ficarmos parados como estátuas, com medo de avançar um passo que pode mudar o restante do percurso, ainda assim, paralisar é uma escolha. E é uma escolha que vai fazer com que outras possibilidades deixem de existir. Cada escolha é uma renúncia, como bem se sabe.
Sartre e tantos outros filósofos já diziam que estamos condenados à liberdade. Ser livre também é se responsabilizar por quem chega e por quem vai embora. Ser livre implica em escolher e aceitar as consequências disso. Ser livre dói. Por isso, muitas vezes buscamos gaiolas. “As gaiolas são os lugares onde as certezas moram”, já disse Rubem Alves. Fugimos da incerteza de saber onde nossas escolhas vão nos levar.
Ainda falando do filme, foram 24 anos para que os protagonistas pudessem finalmente se reencontrar. Quando se reencontraram, já não se encaixavam. Diferentes escolhas, diferentes pessoas, diferentes caminhos. O amor é tudo, só que nem sempre. Da mesma forma que, na vida real, fora da tela do cinema, na grande maioria das vezes, dá tudo certo, só que nem sempre. A vida profissional é uma escada em direção ao topo, só que nem sempre. Amigos de verdade ficam, quem nos ama verdadeiramente fica, só que nem sempre. E nos resta aceitar isso, em nome do nosso direito e privilégio de sermos livres.
De um caminho, nascem mais incontáveis bifurcações. Não é porque caiu uma barreira na estrada, que todas as outras estradas ficam bloqueadas. Mas no dia a dia é difícil nos lembrarmos de que, talvez, seja a última vez que estamos pisando em determinado chão, seguindo determinada trilha, ou coisa do tipo. Por isso a necessidade de aproveitar a paisagem. Sim, você tem o dia seguinte para tentar novamente… só que nem sempre.
E veja só que curioso, Bel. Hoje estive lendo um texto excelente da Zadie Smith, uma das minhas autoras preferidas dessa vida, que joga a seguinte bomba: o que as pessoas querem dizer quando dizem que escolheram alguma coisa? Como saber se realmente queremos algo? Que raios é o arbítrio, afinal?
Somo a isso uma certeza que vem crescendo em mim com o tempo: o amor é uma escolha. Talvez a maior delas.
Um beijo!
uou, que texto! dei até uma respirada mais funda agora.
hoje ouvi um episódio do bom dia obvious, a convidada era uma jornalista especialista em cinema, conversaram sobre o vidas passadas e trouxeram tantos comentários e análises interessantíssimas! recomendo!