O sentido da vida é ter vários sentidos ao longo da vida.
Essa frase apareceu do nada na minha cabeça há alguns dias atrás e - por ironia ou não - ela fez um tanto de sentido para mim. Eu tenho pirado um pouco em relação ao ato de abandonar ou mudar coisas - coisas, essas, que eu achava que se relacionavam intimamente com quem eu sou, com o que eu acredito e com o que eu sonhei para a minha vida. Abandonar sempre foi posto como sinônimo de desistência ou fracasso, mas a vida tem me apresentado um outro sinônimo: o de renovação.
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever, Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? [...] Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique.”
- A Hora da Estrela
Esta semana comecei um novo/velho hábito na minha vida: escrever um diário. Sei que existem livros voltados para o desenvolvimento da criatividade que estimulam a escrita pessoal diária (ainda não li O Caminho do Artista da Julia Cameron e adjacentes, confesso), mas o ato de ter um diário me remete a Isabel de dez, doze, catorze anos de idade. Era no meu diário que eu confessava o inconfessável, no olhar de uma adolescente - que eu gostava do fulaninho da escola, sobre como eu via as minhas amizades ou sobre como eu me sentia insegura na hora de falar em voz alta as respostas dos exercícios de matemática. Pois bem, a Isabel de trinta e poucos anos precisa de um diário não para fazer confissões… ou melhor, para fazer confissões, sim, só que para ela mesma.
Eu preciso aceitar viver o momento. Na atualidade, no presente, no hoje. Minha cabeça é barulhenta, e acho que minha boca, gestos e jeito de ser não acompanham o número de possibilidades que passam pelos meus pensamentos. Piro sobre futuro, sobre passado, sobre se deveria trabalhar tanto ou se deveria me julgar por estar tão cansada sendo tão nova. Piro sobre se deveria ser uma pessoa melhor, onde eu deveria ser melhor, para quem eu deveria ser melhor ou se basta apenas ter a intenção de ser melhor. Piro se deveria ser mais ou menos combativa, e se eu realmente faço juz a palavra “equilíbrio”. Piro se minhas posições políticas estão de acordo com meus atos, políticos ou não, ou se eu sou só mais um ser cheio de hipocrisia andando por aí. Planos e mais planos, projeções e mais projeções, e o número de ideias e possibilidades só cresce e se acumulam para acontecerem em um dia indefinido que está perdido lá, no tal futuro, que eu nem sei se vai chegar - aliás, ele provavelmente vai chegar, mas qual Isabel vai chegar lá? Eu ainda não sei.
Ontem eu acordei e escrevi no meu mais novo diário (que na verdade é só um caderno velho que encontrei sem uso na minha gaveta): o que faz sentido pra mim hoje? Acordar, respirar, começar uma série nova e me dedicar a desenvolver um pouco dos meus objetivos profissionais direcionando para tal lado. Hoje, me fez sentido escrever e recuperar um pouco das aulas perdidas da pós-graduação. Amanhã talvez me faça sentido criar uma planilha, tentar imaginar como serão os próximos vinte anos da minha vida e tentar encontrar um pouco de coerência entre todas as mil possibilidades que minha cabeça cria. Depois de amanhã talvez eu jogue essa planilha fora. Um dia de cada vez. Sentir e aceitar um sentido de cada vez.
Meus momentos não são mais tão voláteis quanto os que eu tinha quando mais nova, e essa talvez seja uma das belezas de amadurecer. Cada dia que passa, o caminho vai ficando mais aparente, mesmo que em meio a tantas curvas. O “a longo prazo” começa a virar uma ideia acolhedora, mesmo que ilusória muitas das vezes. Mas entendi que, ainda assim, não adianta gravar em pedra esses tais momentos e ficar em uma espécie de luto quando eles precisarem ir embora por não se encaixarem mais na minha vida e nas minhas convicções atuais. O que for para ser cravado, encontra seu próprio caminho para fazer isso acontecer. Vira tatuagem em pele, amor digno de romance, fotografia antiga que nunca perde a cor, pintura rupestre, o que for. O resto vai embora, mesmo que a despedida te bagunce muito além do que você esperava.
Parece simples, mas é um trabalho diário perceber aquilo que faz sentido no momento. Valorizar aquilo que me faz sentir o momento. Prestar atenção no que estou sentindo neste momento. Não é nada fácil, mas só de escrever as palavras “sentido” e “momento” diversas vezes ao longo deste texto, a vida parece mais leve do que parecia há meia hora atrás. Seria este o caminho? No momento, é o que faz sentido.
Do outro lado do muro ✨
Sobre a desilusão inerente a geração millenium, genialmente colocada pela
- conta o que já deveria ser normalizado: a tristeza sem motivo
Encontros e desencontros consigo mesmo, por
Prazos impossíveis fazem qualquer sentido? (Eu amei esse texto!
)Falando de trabalho, para os colegas que trabalham com branding, um guide bem legalzinho
Rádio Novelo nunca erra:
Obrigada por me citar, Isabel ❤️
a gente nunca pode perder o "momento" de vista. não dá para pirar sobre o futuro e negligenciar o agora...