#47 De propósito
quando linhas entre o que é seu sonho e o que são sonhos alheios ficam bem delimitadas
De propósito, mas quase sem querer, eu acabei me afundando e me confundindo em toda essa ideia de qual seria o meu verdadeiro propósito. De dar significado à vida, a cada hora passada, a cada movimento feito. Vencer e sorrir, em resumo. Eu tenho uma imagem lúdica do que é viver, ainda. Não acho que as coisas são em vão, não acho que se deve perder tempo com o que não agrega, embora às vezes seja necessário. Não acredito que a vida é feita para ser uma experiência sem sentido, ou para ela passar diante dos nossos olhos sem que possamos tê-la sentido na pele, na veia, no pulsar do sangue e do coração. É nesse sentimento que nos é enfiada a ideia de propósito, sem que antes possamos pensar, mergulhar e arrancar lá de dentro, qual é a verdadeira identidade dele.
Todo mundo tem o propósito de ser feliz. De ser bem sucedido de alguma maneira, de ter o amor na vida, seja romântico ou não, de construir algo, pequeno ou invisível, que seja. O mundo é construído na base do que deu certo, e tudo aquilo que não se encaixa no conceito de “dar certo” fica estampado como um erro na história, um ponto fora da curva, ou na melhor das visões, um aprendizado. Aprender é maravilhoso, e sim, todo mundo vai errar, constantemente, insistentemente, e muito provavelmente, eternamente. Só que às vezes incorporamos erros e acertos do que é externo a nós. Nem sabemos onde estamos querendo acertar, mas estamos lá, cometendo erros, em nome de um propósito que talvez nem exista.
Cada dia mais, entendo que aquilo que me afasta de quem eu sou e do que me faz respirar aliviada, não pode ser tido como meu propósito. Talvez possa ser interpretado como um caminho de sobrevivência, uma alternativa, uma realização - mas não um propósito.
O mundo nos exige ser práticos. Para viver, é preciso de dinheiro. Para ter dinheiro, é preciso trabalhar. Para viajar e vivenciar outras culturas, ver o mundo com outro olhar, para aproveitar toda a beleza da gastronomia - da mais simples até a mais rebuscada, para ajudar quem você ama e quem você não conhece, para ter o amor de um bicho de estimação ou de um filho, para fazer e consumir arte, para tudo isso, é preciso ter dinheiro. E para ter dinheiro, na grande maioria das vezes, não bastam as horas semanais trabalhadas, não basta a vontade de ganhá-lo, não basta o mito da meritocracia. Seu propósito até pode ser ganhá-lo, mas provavelmente não é ficar infeliz enquanto o tentar.
Tudo isso aqui escrito parece uma carta de socorro que diz “quero parar de trabalhar”, mas longe disso. Sou feliz trabalhando, e sim, gosto de me dar prazer gastando o meu próprio dinheiro, tendo minha liberdade e independência. Mas, pela primeira vez, reconheço que meu trabalho não é o meu propósito - e quase consigo ouvir algo quebrando dentro de mim enquanto digito essa descoberta, como se fosse um atestado de comprovação final. Já pensei muito que meu trabalho me definia. Já me vi chegando em muitos topos, e parte de mim ainda vê esse cenário. Já sonhei com as assinaturas da minha carteira de trabalho e os elogios corporativos recebidos. Mas sonhei todas essas coisas em nome de algo que inseriram em mim, diretamente ou indiretamente, e não de algo que eu busquei dentro de mim.
Meu propósito é literatura, arte, escrita. É gerar diálogos e criar conexões através das palavras. É me encantar com livros e seus autores, filmes bons e rir com os não tão bons assim, é abraçar quem eu amo, almejar um futuro onde exista amor e felicidade. Dinheiro é felicidade? Sim, sem dúvidas, mas também é só uma ferramenta. Propósito é felicidade, e quando a linha entre qual é a verdadeira identidade dele e todo o resto que é apenas um caminho para conseguir alcançá-lo fica bem delimitada, o mundo parece fazer mais sentido. Mesmo que esse sentido não seja tão lúdico quanto eu gostaria.
Fiquei um tempinho sem aparecer por aqui, por motivos de (adivinha) trabalho. Ando tentando me encontrar dentro do que eu faço, além de estar tentando sobreviver sem me afogar com o número gigantesco de coisas para fazer (assim como a grande maioria de nós, né?). Eu sumo, mas eu volto! Afinal, escrever é o mais próximo do que eu entendo como propósito.
Do outro lado do muro ✨
Agora umas das minhas mentoras de escrita tem newsletter! Amando acompanhar a
:Eu tenho muita vontade de me aprofundar na literatura russa, e o texto da
só reforçou meu desejo:
Isa, eu passei os últimos 7 anos de profissão (que executo desde os meus, pasmem, 16 anos) acreditando que ele me definia. Todas as minhas metas eram profissionais. Todos os meus sonhos de ser bem sucedida e “dar certo” envolviam meu trabalho. Até que esse ano fui pega de surpresa por um questionamento: e se não for isso? E se esse não for meu propósito? E se tudo isso que eu busco, tem a ver só com a procura de um reconhecimento? E o seu texto (e que texto incrível) caiu como uma luva, no momento perfeito. Obrigada por transcrever essa fase de uma maneira que eu tenho tentado a meses e não consigo. Obrigada mesmo pela leitura. <3
Ahhh que lindo, Bel. Mas olha, retifico: dinheiro não é felicidade. Dinheiro até ajuda a trazê-la (hehehe), mas sempre importante não confundir. Trabalho pode ser bom e concordo: não precisar ser o nosso propósito. A gente tem que aprender a enxergar o que ama de verdade e aceitar o caminho que torna isso possível, fazer as coisas que se ama. Você viu "Dias Perfeitos"? O que me diz: o protagonista é/está feliz? Deixo a pergunta. E um livro que me ajudou a pensar muitas coisas sobre isso : "Como encontrar o trabalho da sua vida" - School of Life. Mudou a minha vida