#35 No meio do caminho, tinha um outro caminho
sobre o privilégio de ter escolhas e a agonia que certos privilégios trazem
Imagine-se em uma estrada de terra, em meio à natureza. O céu é de cor azul vibrante, sem nuvens. O entorno é cercado de verde, sons de pássaros dos mais variados tipos. A vontade que te invade é de ficar ali, respirando ar puro, se dando uma pausa, mas você não pode. Você tem um caminho para seguir, um objetivo a cumprir e um ponto de chegada a visitar, então você precisa seguir em frente. E assim você o faz.
No começo da sua caminhada, você jurava que era um caminho de linha reta. Lá de trás, você só conseguia ver o horizonte como opção. Mas, quanto mais você andava, mais bifurcações você foi descobrindo. Na primeira, era um caminho igualmente simpático, com rosas amarelas em seu início. Na segunda, eram lírios. Na terceira, eram girassóis. Todas as bifurcações tinham algo de diferente e lindo para se contemplar, mas, em nenhuma delas, você consegue ver para onde vai. Serão elas um atalho para a sua linha de chegada? Ou são desvios que irão te fazer perder tempo? E será que existe o risco de você se perder caso escolha contemplar os lírios ao invés das rosas? São respostas que você não vai ter, até entrar no caminho em questão.
Metáforas à parte, eu ando vivendo um pouco o sofrimento de ter que fazer escolhas. Segundo a astrologia, esse é o meu calcanhar de Aquiles (librianas me entendem). Claro que, no mundo real, os caminhos não se apresentam só com flores vivas e coloridas, todos eles tem alguns espinhos também - mas, no todo, são bons caminhos para se percorrer. O que me mata um pouco por dentro é não saber qual seria o melhor a seguir, e ter que aceitar conviver com essa dúvida.
Falamos muito das escolhas que precisamos fazer quando nos vemos em um momento da vida mais difícil, sem muitas opções e onde a busca pelo melhor se torna um pouco mais clara. Mas e quando várias opções se apresentam em um momento não esperado? Elas podem ser igualmente boas, mas é difícil definir qual seria a melhor. Claro que ter escolhas é um luxo nos dias de hoje, é um privilégio poder ter opções para onde ir, mesmo sabendo que não vai ser sempre assim. Mas, no fundo, isso não aquieta meu coração. Só faz ele bater mais forte, como se ele estivesse pronto para sair pela minha boca a qualquer minuto.
Sou um ser humano inquieto. Gosto da rotina até a página 2, mas sei que preciso dela no meu dia a dia. Porém, preciso também de mudanças em períodos curtos de tempo, mesmo que sejam pequenas: alguma novidade na alimentação, um exercício físico novo, uma história nova para escrever, um item de decoração novo, planos novos que só ficam na cabeça, etc. Ao mesmo tempo que sou um ser humano inquieto, sou um ser humano cansado (jovem, eu sei, porém cansado). O caminho reto tem me parecido cada dia mais atrativo, porém mais distante. Ao mesmo tempo que gostaria de seguir em linha reta, ignorando todas as bifurcações com suas flores, eu sou traída pela minha própria essência, que me obriga a dar meia volta e seguir um caminho novo, quase todas as vezes.
Os dilemas das escolhas acabam esbarrando com o meu dilema eterno (e talvez o dilema de muita gente): afinal, quem sou eu? O que eu realmente quero e busco? Aonde eu quero chegar? Será que um dia essa busca termina? Será que eu gosto mais de lírios ou de girassóis, ou será que eu nem ligo tanto assim pras flores? Será que existe a melhor escolha, e eu não consigo enxergá-la? Ou será que a vida é sobre isso mesmo - escolhas e mais escolhas, até você se cansar de vez e partir dessa para uma melhor?
Como eu já disse por aqui nessa newsletter, a busca é o que me movimenta, o que me faz feliz. Mas, ainda assim, ela pode ser cansativa muitas vezes, porque cada caminho novo apresenta, também, novos espelhos. E nem sempre é fácil ter que olhar para a sua imagem refletida e sentir orgulho do que se vê.
No fim, parece uma boa escolha só estender uma rede, pegar um bom livro e ficar ali por tempo indeterminado, admirando a paisagem. Se algum caminhão não me atropelar enquanto eu faço isso, talvez seja um dos meus próximos objetivos. Parar. Respirar. Sentir. Acalmar. E, só daí então, finalmente, decidir.
Palavras 🌝
“E eu quero a forma e o conteúdo
A casca e o profundo, a pose e a canção
Eu quero o todo, eu quero tudo
Ai, ai, como eu me iludo, e viva a ilusão”
A Balada de Tim Bernardes
Do outro lado do muro 🍀
pouquinhas indicações por motivos de: semana de trabalho insana e intensa rs
Ando viciada nos textos do
:Qual é o seu modo de fazer?
esse eterno voltar atrás, olhar de novo para as possibilidades, pensar "e se" e recomeçar. me identifiquei demais com as bifurcações em que todas as flores - ou jornadas - me interessam.
obrigada pela recomendação <3
Menina, me reconheci um bocado no teu texto porque também preciso de rotina mas se for demais, me esvai o brilho da vida! 😅
Super obrigado pela menção! 💕